quinta-feira, 19 de agosto de 2010

O mal banal?

Certa vez escutei de uma amiga, "Quanto mais vivo com as pessoas, mais gosto dos animais". E lembrei deste texto que havia escrito.
O ser em questão não é a identidade do homem, mas a forma sutil de transformar-la. O texto se trata do indivíduo comum que pode mudar seu ambiente significadamente, apenas com o seu eu.


Banalidade do Mal

Introdução
Este trabalho visa apresentar a descrição de Hannah Arendt  para julgar Adolf Einchmann em seu livro Eichmann in Jerusalém : A Report on the Banality of Evil - 1961
Hannah Arendt  nasceu em 1906 e foi filha de uma família judia intelectualizada. As suas obras têm como característica incentivar o debate entre filosofia e política e discutir a questão do totalitarismo (The Origins of Totalitarianism) as torturas no passado e o regime político maniqueísta (Nazista, por exemplo).
A identidade de Eichmann mostrou o conceito de um novo carrasco, é o que chamaremos de banalidade do mal.


        I.            Quem foi Adolf Eichmann?
Foi um político e importante cabo da SS na Alemanha Nazi e foi responsável por mandar milhões de judeus para o campo de extermínio, o que faz dele uma figura em destaque durante o Holocausto. Foi julgado em Israel onde foi condenado por todas as acusações e enforcado no dia 1 de Junho de 1962.


      II.            Estamos enganados sobre a maldade

A garantia de que existem pessoas boas é a perspectiva de que o mal se caracteriza como um autoritário, maligno e traiçoeiro. De fato a origem do mal é um tema mais convocado no estudo não só do grupo da psique, mas também da filosofia como foi o caso de Kant que percebeu que o mal não se origina nos instintos ou na natureza, mas sim na racionalidade do homem que também o torna livre, desta forma o mal não seria ontológico seria na verdade reduzido ao que o homem é. Este é chamado de mal radical. E foi assim que Arendt retoma a esse conceito acrescentando-lhe a idéia política de seu tempo, o radical agora era um pensamento totalmente novo sobre o que era o mal.



    III.            No julgamento de Eichmann

Foi após ser chamada pela revista americana para fazer a cobertura do julgamento de Adolf, Hannah confirmou sua tese sobre a Banalidade do Mal.

Banalidade = No sentido proposto aqui seria “Aquilo que é comum a todos”, ou “Insignificante”

Arendt fica surpresa com a forma de Eichmann falar de suas atividades quando funcionário Nazi, de forma banal, ou seja, comum e normal; daquilo que seria feito somente por uma moral da obrigação, um dever a ser cumprido.
Eichmann também era um bom pai de família, não possuía nenhum ódio pessoal ao povo judeu e poderia ser classificado como um cidadão normal. No entanto matou centenas de judeus em campos de concentração.
Eichmann também não era um patriota alemão e nem pensava na figura de Hitler como um verdadeiro líder, pode-se pensar a partir daí que estamos diante de um mal diferente de tudo aquilo que estamos acostumados a pensar-foi assim que Arendt criou o conceito Banalidade do Mal.

A explicação mais que viável de Hannah é de que não existe uma origem para esse mal, podemos entendê-lo simplesmente como conseqüência de uma sociedade massificada, economicamente e socialmente grande, fazendo com que o indivíduo se sentida “escondido” dentro dela; sem poder, solitários e submissos, tornando-se verdadeiros burocratas ou até máquinas que personificam a característica de não pensar nas conseqüências das ordens de seus líderes. Era assim que Eichmann era um lobo solitário que era incapacitado de dizer “não, eu não posso fazer isso”. Era um praticante do mal banal.


    IV.            Eles foram culpados?

Diante deste conceito, não é possível pensar em crime consciente dos julgados- logo porque mesmo a Hannah disse, eles não sabiam nem da culpa. Então estão eles livres de seus atos? Seria irresponsabilidade pensar desta forma, contudo é preciso pensar em ética, porque se não vamos todos nos julgar “incapacitados de pensar” e os direitos humanos seriam desprezíveis. Sim, existe um juízo de valor de cada sociedade sobre os limites da maldade, mas também existe um limite natural (entende-se como autodestruição) sobre os próprios seres humanos.

Conclusão

A sociedade contemporânea encontra-se diante deste mal banal, isso porque é um tipo de mal que não chama atenção, portanto mais sustentável. A cura para essas pessoas que não pensam é necessariamente o fim que Eichmann teve? Penso que não... Mas fiquemos cientes dos lobos solitários que podem nos cercar, e o mal que eles podem causar é impreterivelmente igual ao de qualquer um.


5 comentários:

  1. Pessoas que praticam bullying, ladrões que torturam suas vitimas, indivíduos egoístas que prejudicam os outros por puro prazer(exemplo:Jornalistas como o Datena que atacam minorias)...Todos são muito comuns em nossa sociedade(e foram em períodos anteriores também), muitas pessoas tem atitudes em maior ou menor grau deste tipo, algumas acham a maldade cometida algo engraçado!(o que é detestável) A solução que consigo vislumbrar é realmente cada um fazer a sua parte cuidando igualmente de suas atitudes e a dos outros evitando que o mal banal passe despercebido, mostrando aos outros que este tipo de atitude deve ser reprovável por todos e não apenas pelas autoridades.
    Parabéns pelo texto.

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  2. Como julgar-se a si mal ou errado, quando as virtudes da moral coletiva humana são disvirtuadas numa moral individual egoísta?
    A sociedade vigente é mais invidual do que ela mesma pode enxergar, visando interesses para si ou um pequeno grupo sempre existirá um mal banal;Assim como a Bia mesmo citou "é um tipo de mal que não chama atenção, portanto mais sustentável".
    Qual a solução instantânea para isso? Não existe receita. Somente o tempo, a evolução do intelecto humano e a coexistência mútua podem corrigir tal fator, ao ponto de todos seres humanos tornarem-se cooperantes entre si.

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  5. Well, não sei se a passividade em função do tempo resolverá nossos problemas.

    Interessante o texto.
    De fato, a relatividade da moral permite a banalização do "mau". Porém penso que não é só o efeito de massificação na sociedade o responsável ou causa única de vivências como a de Eichmann. A massificação consolidada, muitas vezes só prossegue um desencadeamento de atitudes anteriores, seja de alguns líderes, seja de um grupo no povo motivado por alguma revolta "comum", e ela [a massificação] é, por sua vez, então, apenas consequencia da ação persuasiva de alguns destes pensamentos iniciais de líderes ou grupos. A causa, seja da banalização do mau, seja da massificação quando desvirtua a moral, esta na concepção mau formulada ou egoísta inicial de uns poucos, anteriormente, repito, a criação destes "lobos solitários".

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